Pesquisa revela quem são as artistas do barro de Tracunhaém 

Tracunhaém, município da Zona da Mata Norte de Pernambuco, distante 62 km da capital Recife, é bem conhecido como polo cerâmico e até já ganhou o título de Capital do Artesanato em Cerâmica pela Assembleia Legislativa de Pernambuco. Com menos de 14 mil habitantes, cerca de 50% da sua população vive da transformação do barro em peças utilitárias ou em obras de arte que carregam, além de beleza, riqueza cultural e diversidade de técnicas. Com o objetivo de compreender e revelar quem são as mulheres artistas tracunhaenses, o censo cultural Mulheres do Barro será apresentado na quinta-feira (4).

O estudo foi realizado com incentivo do edital Microprojeto do Funcultura e busca apresentar um conjunto de dados referentes às mulheres artistas coletados em questionários. Foram ouvidas aproximadamente 50 artistas, em sua maioria negras, que trabalham nas mais diversas habilidades criativas utilizando o barro como matéria-prima. O lançamento completo dos resultados desse trabalho, que vai contribuir com a preservação da memória da tradicional arte em cerâmica e das mulheres que se dedicam ao ofício, será realizado no site do projeto mulheresdobarro.com.br e no canal do YouTube https://www.youtube.com/@Mulheresdobarro, a partir de 11h horas.

A faixa etária das mulheres mapeadas que trabalham com cerâmica em Tracunhaém é bem abrangente, vai dos 16 aos 95 anos. 34,04% das mulheres mapeadas são jovens adultas (estão entre 25 e 35 anos), e 23% delas são pessoas idosas (têm idades igual ou superior a 60 anos). “Uma nova geração de mulheres tem mantido a tradição com o barro na cidade, enquanto profissão e fazer artístico. Ao mesmo tempo, as idosas ainda têm o barro como subsistência e também mantêm a tradição”, esclarece Gabriela Feitosa, pesquisadora colaboradora no Mapeamento Mulheres do Barro. 

Em relação ao tempo de experiência das mulheres com cerâmica, a pesquisa identificou que 88,36% das mulheres mapeadas têm mais de dois anos de experiência com cerâmica. E 47% das mulheres estão atuando há mais de 10 anos na área, indicando que grande parte das artistas, de fato, têm prática no seu fazer artístico e profissional.

No âmbito da maternidade, 74,5 % das mulheres mapeadas são mães; 54,29% delas têm mais de um filho e 44,7%, são chefes de famílias. “As mulheres que são mães têm maior dificuldade de permanecer e de se manter no mercado de trabalho, por isso esse grupo precisa de maior incentivo e fortalecimento. Os filhos dessas mulheres representam uma possibilidade de continuidade da tradição da cerâmica no território, essas pessoas devem ser apoiadas”, detalhou Silvia Ribeiro, coordenadora geral e idealizadora do Mulheres do Barro.

O estudo também mostra que a cerâmica é a principal fonte de renda para 80,09% das inquiridas. No que diz respeito ao local de trabalho delas, apenas 14,9% das mulheres mapeadas trabalham com cerâmica em associações ou coletivos; 31,9% das ceramistas trabalham na própria residência e 31,9%, atuam em estruturas improvisadas. Do total, 53,2% das mulheres mapeadas trabalham com cerâmica em ateliês familiares.

“A imposição do mercado da cerâmica no território dificulta a possibilidade do desenvolvimento do processo artístico autoral das mulheres mapeadas, tendo em vista que na maior parte do tempo os trabalhos são desenvolvidos para atender a um mercado e sobra pouco tempo para o desenvolvimento autoral das artistas”, analisa a pesquisadora Gabriela Feitosa. No mesmo cenário, 87,2 % das mulheres mapeadas têm interesse em se qualificar mais em relação à cerâmica, o que demonstra a necessidade de investimentos nas mulheres que atuam no ramo ceramista de Tracunhaém.

Além da coleta de dados, o projeto incluiu a produção de um documentário que foi gravado e montado entre fevereiro e março deste ano. Nele as produtoras se unem a uma equipe de realizadores do audiovisual da Mata Norte, e contam como foi esse mapeamento mostrando a história de 12 artesãs da cidade de Tracunhaém. Realizado com recurso da Lei Paulo Gustavo do município, a obra pode ser vista na página oficial do projeto.

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